ARTIGO DO DIA: "SE HOJE ESTÁ ASSIM, AMANHÃ COMO SERÁ?" POR ARMANDO MOURÃO*

O analfabetismo político representa uma estagnação social, uma zona de conforto cega, desprovida de consciência política, evidenciada pelo conhecido discurso pronunciado pelos equivocados do tipo: “odeio política”, “política não se discute” e materializada em atitudes como desligar o rádio na “A Voz do Brasil” ou o televisor durante o horário da propaganda eleitoral obrigatória. Atitudes insanas, comportamento sombrio derivado da lavagem cerebral a que somos submetidos desde o nascimento até os últimos dias da existência física. Somos vítimas da cultura do “deixa pra lá”, “está bom assim”, “depois melhora”. 

Aprendemos desde cedo que mais vale assistir um programa televisivo improdutivo, que não acarretará nada além de algumas risadas, ou algum programa de esporte violento, do que ler aquela matéria no jornal de hoje que trata da crise política do país ou do mundo, ou assistir aquela entrevista com aquele candidato à presidência da República, pois rotulamos tal comportamento como uma atitude que aporrinha as nossas vidas, esquecendo-nos que o que causa, efetivamente e verdadeiramente, o mal estar social e cultural, é exatamente o desinteresse pelo que acontece no mundo político. 


Não se pode negligenciar o apreço obrigatório pela situação política do país em que vivemos, tendo em vista que não há como evitar a política quando se vive em sociedade. Afinal de contas, conforme ensina Aristóteles “A natureza do indivíduo humano só é realizável pela comunidade social e política. O indivíduo isolado torna-se insociável e apolítico, comportando-se ‘como um deus ou uma besta’”. 

Deste modo, o ser apolítico, isto é, aquele que repudia a política e não dá a mínima para o que acontece no cenário sociopolítico do país, do estado ou mesmo do município em que reside, se torna um não cidadão, nada sócia. Torna-se sim um instrumento fácil a ser moldado de acordo com os padrões e dinâmicas políticas impostas, um servo dos protagonistas políticos de sempre, um indivíduo sem desejo, sem opinião, sem direitos. 


Cidadão no sentido macro do termo é aquele que participa na vida política, através de funções deliberativas, nas quais pode-se atrelar o direito ao voto, à manifestação, ao debate, à inserção política com participações efetivas, etc. Assim, estabelecido esse distanciamento entre política e indivíduo a democracia enfraquece, perde força, forma-se uma encenação democrática, uma faz de contas do exercício dos direitos políticos, institui um estado vegetativo do ser em termos sociais participativos, elimina a essência fundamental existente na formação da vida em sociedade, que é a política. 

Em contrapartida, o interesse pela política de modo sério e contundente, levantando a crítica raciocinada frente aos debates, notícias e propagandas políticas proporciona ao cidadão maiores subsídios para, efetivamente modificar a realidade sociopolítica contemporânea. Portanto, o analfabeto político não deve se orgulhar e estufar o peito dizendo que odeia a política, e, sim, sentir vergonha da sua ignorância política, da qual nasce a prostituta, o menor abandonado, o traficante, ensejando a violência banalizada, além do pior de todos os bandidos: o político vigarista, desonesto, corrupto e lacaio,digamos um Bertolt Brecht dos exploradores do povo. 

* ARMANDO MOURÃO É DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL DO PARÁ E DIRETOR DA SECCIONAL DE POLÍCIA DE ANANINDEUA.

Comentários

RUBENITTA disse…
Boa crítica, no entanto, não há sugestões de fuga desse estado letárgico. Há muito vem se criticando o currículo nas escolas de ensino fundamental e nas universidades e nada se faz! A disciplina “Ciência Política” deveria ser obrigatória desde os primeiros anos escolares. Vejo um interesse enorme em se manter essa preguiça mental, desleixo cultural, descaso sócio-político, pois, “emburrecido”, o homem não questiona, não reivindica, não cresce e o nanismo é fundamental para conduzir pessoas como se quer, afinal, segundo Zé Ramalho “ôô, vida de gado Povo marcado, ê Povo feliz”. E hoje é dia do domingão do Faustão!
Receba meu abraço.

Rubenita Pimentel

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