ARTIGO DO DIA: "VIOLÊNCIA E BANALIZAÇÃO", POR ARMANDO MOURÃO*
Em que “violência gera violência"? Este é um truísmo que, por mais que seja anunciado, a ponto de torná-lo um lugar comum, ainda não parece ter sido assimilado pelos diferentes extratos sociais disponíveis na humanidade. Ela está em destaque! Basta ligarmos a televisão, rádio, ou abrimos o jornal, ou uma revista e certamente encontraremos alguma notícia que nos faz pensar “quanta violência! Onde é que isso vai parar”?". Cada vez mais os meios de comunicação deixam explícito que, onde quer que estejamos independentes de raça, idade, sexo, grau de instrução ou classe social, estamos vulneráveis à violência, obrigando-nos a constatar que ela invadiu todas as áreas da vida e das relações do indivíduo.
Este movimento, ao mesmo tempo em que traz à tona essa questão tão séria, pode propiciar uma visão distorcida da realidade. O uso excessivo e indiscriminado de conceitos como agressividade, violência e agressão, acaba por banalizá-los, e qualquer coisa que não agrade ou não esteja de acordo com o que as pessoas querem, pode ser considerada “uma violência”. Além disto, o grande destaque que se dá a acontecimentos extremos na mídia, sem a contextualização necessária do que está sendo noticiado com todos os fatores que propiciaram a eclosão da violência, contribui para que esta seja tida como algo que acontece apenas em situações extremas e que ela seja praticada por pessoas "desumanas", "más", "doentes", ou "loucas", quando isto está longe de ser a realidade.
A preocupação com a expressão "macro" da violência na sociedade atual - essa que aparece no crime organizado, na corrupção generalizada dos diversos órgãos públicos, nas guerras entre países, nas relações de dominação exercidas pelos países desenvolvidos, etc. e todas as ações que vêm sendo realizados pelos mais diversos grupos da sociedade, no sentido de denunciar essa situação e exigir atitudes eficazes que a solucionem - é evidente e necessária. Mas, se destacarmos e nos preocuparmos apenas com esse aspecto da violência, correremos o risco de deixar de lado a "violência nossa de cada dia", aquela que cometemos em nossa casa, escola, trabalho, com nossos familiares, amigos, vizinhos e com nós mesmos.
Uma reflexão sobre as causas da violência, como ela se manifesta e quais suas consequências não pode ser reduzida a explicações superficiais e simplistas que levam a ações imediatistas, que podem até maquiar mas não chegam a transformam suas verdadeiras causas. Essa reflexão é o primeiro passo na direção das mudanças e possibilita que cada um de nós comece por fazer a sua parte. Reformar a branda, condescendente e quase inexistente lei penal que hoje dispomos é apenas o início do processo de transformação que se exige para estes pais, afinal ninguém, absolutamente ninguém paga em sua plenitude pelo crime cometido, razão maior da constante e absoluta reincidência que hoje apenas lamentamos.
* ARMANDO MOURÃO É DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL DO PARÁ E ATUAL DIRETOR DA SECCIONAL URBANA DE POLÍCIA EM ANANINDEUA/PA
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