ARTIGO "POLÍCIA POPULAR" POR ARMANDO MOURÃO*

É fato que uma coisa é uma Polícia respeitada e detentora de legitimidade, e outra coisa é uma Polícia popular. Em determinadas comunidades, é possível que uma minoria viva oprimida e tenha direitos desrespeitados por uma maioria que aplaude e estimula a omissão do aparelho policial local. Nesse caso, a Polícia pode ser popular, mas não está agindo com profissionalismo, excelência e ética. Da mesma forma, é possível que a Polícia aja de maneira brutal sem circunstâncias e seja aplaudida por uma maioria que não se reconhece como vítimas dessa brutalidade, e então, a instituição é elevada à popularidade sem estar exercendo seu dever como determina a lei. 

Esse tema se soma à complexidade do ofício policial, aliás arriscadíssimo, já que protege bens e vidas. Alguns policias não são detentores de apurado senso de legalidade e justiça, haja vista sempre vislumbrarem as ações de natureza policial normalmente sob a perspectiva de interesses particulares, mesmo que contraditórios em relação à sua própria realidade de vida. Em época de mídias sociais, onde a propagação do ódio está popularizada e a defesa da violência é posicionamento político comum, o canto da sereia utilizado para seduzir determinados policiais é ainda mais forte. 

A jornalista Eliane Brum escreveu um artigo brilhante sobre essa intensa apologia da violação do outro através da internet. Em redes sociais, afirma a escritora, seus autores deixam claro o orgulho do seu ódio e muitas vezes também da sua ignorância. Com frequência, reivindicam uma condição de “cidadãos de bem” como justificativa para cometer todo o tipo de maldade, assim como para exercer com desenvoltura seu racismo, sua coleção de preconceitos e sua abissal intolerância com qualquer diferença. Na ânsia por popularidade, alguns policiais correm o risco de abandonar a diferença existente entre a condição profissional policial e o cidadão comum, que, em regra, não possui preparo técnico para diferenciar a ação policial legítima da ilegítima, embora se arvorem em tecer comentários, opinar, criticar e questionar qualquer fato envolvendo a instituição. 

Os cidadãos policiados devem ser sempre ouvidos, preferencialmente, através do filtro da legalidade e da justiça, ferramenta nem sempre popular. O problema é que, em muitos casos, essa tal popularidade tem sido a via de fuga de organizações policiais com baixa autoestima profissional, onde policiais são (ou foram) submetidos a infâmias institucionais em prol de politicagem e interesses diversos dos que posicionariam esses profissionais como referências técnicas e morais. Assim como a jovem celebridade do show business que, mal orientada acaba se degradando em meio a muito assédio, não são os sensacionalistas que pagarão o preço da popularidade ilegítima das polícias, e, sim os próprios policiais.

* ARMANDO MOURÃO É DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL DO PARÁ E DIRETOR DA SECCIONAL URBANA DE POLÍCIA CIVIL NA CIDADE DE ANANINDEUA.

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