MULHERES REMONTAM OS PRIMÓRDIOS DA PRESENÇA FEMININA NA POLÍCIA CIVIL
Se existe alguém que pode falar que viu o início da história da presença feminina na Polícia Civil do Pará, esta pessoa é Hilda dos Santos. Paraense, ela foi a primeira mulher a ocupar um cargo de policial civil no Pará, ao ingressar na corporação em 27 de março de 1964, em pleno governo militar. Atualmente, já aposentada, ela mantém uma vida reservada, buscando o mínimo de contato com a atividade policial e vivendo, a maior parte do tempo, em outro Estado. Chamada de mãe, de forma carinhosa, por muitos policiais com os quais trabalhou, ela até hoje evita dar entrevistas e aparecer na imprensa para falar da carreira policial que, na área de Segurança Pública, começou aos 16 anos, quando trabalhou no antigo Presídio São José, que ficava em frente à praça Amazonas, onde hoje está o Polo Joalheiro, no centro da capital.
Na época, conta Hilda, que ingressou na área por meio do diretor do presídio, coronel Anastácio das Neves. “Eu morava em frente à praça, e ele me viu na janela de casa e foi pessoalmente pedir à minha mãe para que eu fosse trabalhar no presídio. Minha mãe relatou no início, mas acabou permitindo, diante da promessa dele, que tomaria conta de mim”, lembra. Assim, Hilda dos Santos começou a trabalhar na revista de presos e pessoas na casa penal, até os 20 anos de idade. Depois, por meio de um decreto da Assembleia Legislativa do Pará, foi criado o cargo de auxiliar feminino ocupado apenas por Hilda no Estado.
Tratava-se de uma função semelhante a de policial, em que ela chegou a vestir fardamento militar.
Com o tempo, ela foi transferida para a Coordenadoria de Polícia Civil, cuja sede ficava no prédio da antiga Central de Polícia, onde atualmente está a Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe), na rua Santo Antônio, bairro do Comércio. Ali, ficava a Secretaria de Segurança e os setores da Polícia Civil que eram comandados por comissários de Polícia. “O chefe de Segurança Pública no Pará era o general Coelho”, lembra Hilda, ao salientar que, no início, sentiu discriminação por ser a única mulher em um ambiente masculino. “Tive de impor minha condição feminina para passar a ser respeitada como mulher e na profissão”, ressalta.
Hilda dos Santos trabalhou, em 1977, na antiga Divisão de Crimes Contra o Patrimônio.
Em outubro de 1979, ela fez curso de investigadora de Polícia, com duração de seis dias. Na década de 1980, Hilda voltou a trabalhar na Coordenadoria de Polícia Civil, e passou por outras unidades policiais, como a Delegacia do Jurunas, em 1981, e a Divisão de Crimes Contra a Pessoa, em 1984. Mesmo após se aposentar, em 27 de março de 1993, com 30 anos de serviços, Hilda continuou a trabalhar na Polícia Civil, onde atuou com diversos delegados, como Rafael Bezerra Neto, Bertolino Neto e Lauro Bastos. “Eu amava a Polícia. Tinha sangue de Polícia nas veias”, assevera. Ao todo, Hilda consumiu em torno de 40 anos de trabalho na instituição policial. Para ela, o que mais gostava no trabalho era a satisfação em ajudar as pessoas. Às pessoas que entraram recentemente na carreira policial ou que pretendem fazer concurso para se tornar policial, Hilda orienta. “Sejam dedicados e empenhados em ajudar as pessoas”, finaliza.
PRIMEIRA MOTORISTA POLICIAL Outra policial civil que remonta aos primórdios da mulher na Polícia Civil do Pará é Carmem Lúcia Pinho de Ataíde. Com 22 anos de carreira, ela foi a primeira e até hoje única mulher a assumir o cargo de motorista policial, extinto em 2005. Atualmente, trabalhando no serviço de fichamento criminal da Diretoria de Identificação “Enéas Martins”, da Polícia Civil, ela lembra da época em que decidiu entrar para os quadros da instituição, no início da década de 1990. Ela decidiu seguir a carreira, no momento da inscrição do concurso público. “Havia quatro cargos de Polícia. Como já tinha carteira de motorista e dirigia, escolhi o cargo de motorista policial”, relembra, ao salientar que fez a inscrição na antiga Academia da Polícia Civil, situada na rodovia BR-316, em Ananindeua.
Carmem foi aprovada após passar por prova escrita, de legislação, e de física, onde disputou 18 vagas com 30 candidatos, todos homens. Terminou o concurso na sétima colocação. Ela lembra, que na época, as pessoas se surpreendiam ao ver uma mulher disputar um cargo que era ocupado apenas por homens. Com orgulho, Carmem detalha ter trabalhado, no início, dirigindo um carro Chevrolet, na antiga Central de Polícia, e depois no setor de material. Depois, em 1993, ela foi destacada para trabalhar no antigo Instituto de Identificação, na Avenida Magalhães Barata, bairro de São Braz. Ali, atuou como identificadora. Atualmente, ela é formada em bacharelado em Recursos Humanos, cujo curso foi finalizado no ano passado. Sobre a carreira, ela afirma que se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo. “É uma profissão que me deu muito conhecimento e experiência”, salienta.
OUTRAS PIONEIRAS No histórico da presença feminina na Polícia Civil do Pará, fazem parte Raimunda Rodrigues da Silva, primeira delegada de Polícia Civil, cuja data de admissão na instituição é 27 de fevereiro de 1970, e Ivani Maria da Trindade Palha, primeira investigadora concursada da Polícia Civil, com ingresso na corporação em 27 de outubro de 1978. Raimunda Rodrigues já está aposentada e atualmente mora no Rio de Janeiro. Já Ivani Palha continua prestando serviços, na Polícia Civil, sendo, portanto, a policial civil mais antiga em atividade no Estado do Pará.
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