ARTIGO DO DIA: "DESEMPREGO" POR ARMANDO MOURÃO*

É fato que o desemprego é a maior praga do sistema capitalista. O desempregado se torna alijado numa sociedade onde o consumo é endeusado e com ele desmorona, quase sempre, toda sua estrutura familiar. A capacidade de trabalhar é a razão que permitiu separar o homem do restante do reino animal. Foi acompanhando com rigor científico o desenvolvimento das técnicas para controlar as forças da natureza, desde o primitivo homem das cavernas até os dias de hoje, que se tornou possível contar a história da humanidade. 

Quem estiver disposto a vivenciar o significado que o desemprego traz para a vida familiar, não precisa se ater aos frios relatórios sobre o mercado de trabalho. Em qualquer sebo da cidade certamente será possível encontrar o livro de John Steinbeck, “As Vinhas da Ira”, que conta a saga de trabalhadores americanos nos anos de depressão que abalaram a maior economia do mundo, no princípio dos anos 30, do século passado. 


Enquanto no escravismo e no feudalismo existia uma relação interpessoal entre as partes envolvidas no trabalho – o dono com o escravo e o suserano com o vassalo – no sistema capitalismo, esta relação é inteiramente impessoal. Para os empresários, os trabalhadores são apenas números dentro de uma planilha de investimentos destinados a gerar lucros. Por isso mesmo podem ser removidos de seus empregos para atender o objetivo fundamental da empresa, que é sempre o lucro. 

Somente numa sociedade comunista – hoje apenas um sonho utópico – este quadro alienante poderia ser modificado, com o fim da divisão de classes e o estabelecimento da política de pleno emprego. A vitória da burguesia, com o fortalecimento do sistema capitalista, se foi revolucionária e progressista na medida em que destruiu instituições retrogradas, como o escravismo e o feudalismo, criou também uma nova e perversa forma de explorar a força de trabalho dos homens. 

Além de se apropriar, como lucro, de uma parte do trabalho não pago, a mais-valia, os capitalistas logo se deram conta de que manter um exército de reserva no mercado de trabalho permite chantagear os trabalhadores ativos com ameaças permanentes de demissão. Com isso, é possível arrochar os salários e negar ganhos trabalhistas. Um simples olhar nos processos de disputa entre patrões e empregados, que ocorrem a nossa volta, permite constatar como essa técnica de opressão continua sendo aplicada, nas grandes empresas, nos bancos e mesmo nas instituições de ensino. 

Dentro desse quadro, dá algum alento saber que aqui no Brasil, fruto de uma política de compensações sociais que tanto desagradam os neoliberais, vivemos uma situação ímpar no mundo inteiro, já que aumentou significativamente o número de pessoas que deixou de procurar trabalho, principalmente, entre jovens e mulheres, optando em prosseguir nos estudos, focando uma melhor opção no mercado de trabalho. Precisamos incentivar a lei da oferta e da procura, priorizando não só mão de obra qualificada, mas o trabalho braçal, já que este é de fundamental importância no soerguimento de uma nação.

* ARMANDO MOURÃO É DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO E DIRETOR DA SECCIONAL URBANA DE ANANINDEUA NO PARÁ.

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