DELEGADA PARAENSE ASSESSORA CPI DO TRÁFICO DE PESSOAS
A delegada Christiane Lobato, diretora de atendimento a grupos vulneráveis e assessora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Humano, em Brasília, pela Câmara dos Deputados, participa das audiências públicas que estão sendo realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, desde a última quinta-feira, 29. Esta manhã, a delegada está no Rio de Janeiro de onde segue acompanhando o trabalho da comissão destinada a investigar o tráfico de pessoas no Brasil, suas causas, consequências e responsáveis no período de 2003 a 2011. Para hoje, estão previstas as oitivas de 48 pessoas, entre elas, Graziella Rocha, coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado do Rio de Janeiro.
No primeiro dia de audiência pública, quinta-feira, em São Paulo.
DELEGADA PALESTRA EM PLENÁRIA |
O depoimento mais esperado foi o de Telma Rodrigues do Nascimento, acusada de chefiar um esquema que busca travestis no Pará e no Ceará para serem explorados no estado de São Paulo. Telma responde pelos crimes de facilitação à prostituição e rufianismo, que significa exploração para obtenção de lucro por meio da prostituição alheia. A acusada foi presa após o desmantelamento de uma rede descoberta em fevereiro de 2011. Telma, que obteve liberdade provisória, concedida pelo juiz Eduardo Pereira dos Santos Júnior, aguarda julgamento do caso.
A prisão de Telma, em São Paulo, é resultado de uma investigação feita pela delegada Christiane Lobato, à época diretora da Divisão de Atendimento ao Adolescente (Data).
Acompanhada pela advogada Adriana Criniti, Telma respondeu às perguntas do presidente da CPI, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA). Segundo relatos dos travestis que denunciaram Telma, a acusada obrigava que as vítimas fizessem uma quantidade mínima de programas, além de castigá-las fisicamente. Telma também seria responsável por intermediar cirurgias feitas por “bombadeiras” (pessoas que vendem serviços de aplicação clandestinas de silicone, muitas vezes utilizando silicone industrial). Telma defendeu-se das acusações dizendo que apenas tinha duas pensões, mas não explorava as travestis. “Eu tenho a pensão, mas eu alugo vagas. Eu não faço nada de mandar buscar ninguém. O que eles [travestis] fazem da porta para fora, eu não posso fazer nada”, disse.
Embora tenha nascido em Belém (Pará) e ter família na cidade, Telma disse não conhecer anteriormente os travestis belenenses que residiam em sua pensão. Ela negou também que seu irmão, conforme consta nos autos do processo, tenha participação no envio dos travestis a São Paulo. Telma disse apenas que aos conterrâneos dirigiam-se às suas pensões por indicação de companheiros de trabalho, que se conheciam por meio da prostituição nas ruas. Os programas sexuais feitos pelos travestis, segundo a acusada, também não ocorriam dentro das suas pensões. “Lá na pensão não entra homem. O que eles [travestis] fazem da porta para fora é problema deles. Eu não sei o que fazem”, disse Telma.
Telma negou que participasse de um esquema de recebimento de comissões em operações plásticas. “Se fizesse isso eu teria dinheiro. Eu não tenho dinheiro, eu não tenho carro, não tenho nada. Eu vivo das minhas costuras”.
Ela declarou que indicou apenas a uma das travestis, citada como Emanuele, um cirurgião chamado Jair, que atende no bairro Santa Cruz. Emanuele desejava colocar silicone nos seios. A acusada disse que conheceria Jair em função de uma plástica que teria interesse em fazer, no nariz. “Não fiz porque tenho medo de injeção”, disse. Ao longo do depoimento, no entanto, Telma entrou em contradição e acabou admitindo que levou outros travestis a esse cirurgião.
Para o presidente da CPI, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), essa não foi a única contradição nas respostas de Telma. “O depoimento dela é torrencialmente farto de contradições. Ela, na minha opinião, complicou-se em várias situações”, disse.
Segundo Jordy, o esquema de Telma, que torna jovens reféns de uma condição de aliciamento, no qual os travestis chegam ao seu destino como devedores, faz parte de uma rede com possíveis ramificações internacionais. “Ela [Telma] nos deu algumas pistas que podem evidenciar uma rede, uma organização, um sistema que acaba capturando jovens vulneráveis do ponto de vista econômico, socioafetivo e da solidez familiar”, disse. A delegada Christiane Lobato acredita que as contradições de Telma e as informações obtidas durante as investigações devem colaborar para a suspensão da liberdade provisória da acusada.
Com informações da Agência Brasil.
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